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No Rijksmuseum, o Brasil é um retrato na parede

SILVIO CIOFFI — ENVIADO ESPECIAL AOS PAÍSES BAIXOS

Inúmeros viajantes procuram no Rijksmuseum de Amsterdã, capital dos Países Baixos —atual denominação oficial da Holanda—, apenas as obras-primas de pintores flamengos como Rembrandt (com destaque para o monumental Ronda Noturna, pintado entre 1634 e 1942), Van Gogh, Vermeer e Frans Hals. Já o visitante atento desse museu instalado na capital neerlandesa desde 1808, acha nos quadros de Frans Post e Albert Eckhout a magia dos personagens típicos, da flora e da fauna e da paisagem brasileira no século 17.

Fechado para reforma de 2003 a 2013, o Rijksmuseum (ou, literalmente, “Museu do Reino”) teve sua museologia remodelada por um escritório de arquitetura espanhol.

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No alto, tela de Frans Post e, acima, vitrais no Rijksmuseum, no bairro dos Museus, em Amsterdã (Fotos Silvio Cioffi-V!VA)

Em sua versão original, ele foi inicialmente inaugurado em 1800, na cidade de Haia; mudou, oito anos mais tarde, para Amsterdã; e, finalmente, foi instalado no prédio gótico-renascentista atual em 1885. Próximo dos museus Van Gogh e Stedelijk, no chamado bairro dos Museus, o Rijksmuseum é um dos mais importantes museus de arte em todo o mundo.

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Telas de Frans Post no Rijksmuseum (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

O “BRASIL HOLANDÊS”
A localização das obras que remetem ao Brasil no Rijksmuseum é mutante, atende às reformulações museológicas da instituição em cada época, e, assim, as exposição dos óleos e desenhos de Frans Janzoon Post e Albert Eckhout mudam com frequência.

Essas obras foram realizadas no bojo do que estudamos como “Invasão Holandesa” do Nordeste do Brasil, um período que coincide com o da União Ibérica (1580-1640), quando uma conjunção dinástica entre os reinos de Portugal e da Espanha entregou o governo aos monarcas castelhanos. Essa junção monárquica entronizou os reis espanhóis na Península Ibérica e transformou em letra-morta, na América do Sul, o antigo Tratado de Tordesilhas. Esse tratado —pré-descobrimento/achamento do Brasil— dividia verticalmente o território da América do Sul entre as coroas de Portugal e da Espanha.

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Church Building in Brazil, tela de Post, 1675-1680 (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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Landscape on the Rio Senhor de Engenho, de Post, de 1670-1680 (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

E foi nesse contexto de União Ibérica que os Países Baixos, por meio da Companhia das Índias Ocidentais (WIC, na sigla em neerlandês), tomaram uma área significativa do Nordeste brasileiro, com destaque para o atual Estado do Pernambuco, construíram cidades e financiaram a produção açucareira. Os neerlandeses da WIC ficaram na região de 1630 a 1654.

O príncipe alemão-neerlandês João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679), o mais destacado governante do “Brasil Holandês”, trouxe em sua corte artistas como Post e Eckhout. O nobre iniciou seu governo em 1637.

Em 1644, Nassau retornou à Europa por decisão unilateral da Companhia das Índias Ocidentais. Dez anos depois, as áreas nordestinas controladas pela WIC foram reconquistadas pelos portugueses.

E foi graças à visão humanista de Nassau que o legado artístico de Post e Eckhout se transformou em documento vívido da nossa paisagem, dos tipos étnicos que aqui conviviam, detalhando com rigor pictórico e científico plantas, animais do mar e do sertão.

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Retrato de Frans Post (domínio público/Wikipedia)

FRANS POST
Pintor, desenhista e gravador, Frans Post (1612-1680) pintou no Brasil, ao que se saiba, apenas sete óleos, isso entre 1637 e 1644. De volta à sua terra natal, ele seguiu pintando, de memória e com as minúcias características da arte flamenga, a paisagem brasileira, engenhos, cachoeiras e várzeas de rios. Um olhar atento de seus óleos revela que Post “esconde” nas sombras de sua pintura silhuetas de tatus, serpentes e capivaras no meio da mata tropical que envolve vários de seus quadros.

Em algumas obras, ele assina “Francisco Correo”, parodiando seu nome.

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Landscape in Brazil, de Post, de 1652 (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

ALBERT ECKHOUT
Seu contemporâneo Albert Eckhout (1610-1666) foi menos minimalista e mais “estudioso” e atendo aos personagens que viviam no Nordeste de então, à nossa fauna e flora. Ele desenhou e pintou em detalhes a natureza brasileira com olhos de naturalista, como nunca dantes haviam feito. De suas obras, saltam tipos étnicos como mamelucos, mulatos e negros, bromélias e frutas, peixes e animais marinhos, bichos nativos do sertão.

Impossível, nesse grande museu de Amsterdã, não se emocionar com tamanho documento artístico e científico de um Brasil que se descortina aos olhos flamengos com tanto vigor.

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TESOURO REDESCOBERTO
Em 2013, no entanto, um conjunto de 34 desenhos foi descoberto pelo estudioso Alexander de Bruin num arquivo na cidade de Haarlem —e, então, estiveram expostos pelo Rijksmuseum, em Amsterdã.

Um desses desenhos parece ter servido de base para a tela que mostra a foz do rio São Francisco —e que pertence atualmente ao museu do Louvre, de Paris, presenteado que foi por Nassau ao rei Luís 14, da França.

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Visitante no museu de Amsterdã (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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Em São Paulo, o Masp também guarda pinturas de Frans Post. Há uma paisagem com uma jiboia, outra com um tamanduá e outra ainda com uma vista de Pernambuco com a casa-grande. Mas o destaque de Post no Masp vai para um óleo que mostra a cachoeira de Paulo Affonso, um óleo sobre madeira, de 59 cm X 46,5 cm, pintado em 1649. Em área que em nossos dias fica no semiárido Norte da Bahia, essa cachoeira formada pelas águas do rio São Francisco, voltou a ser admirada recentemente depois de ter ficado 12 anos à míngua, esvaziada que foi pela construção da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

SITES:
Rijksmuseum
Museu Van Gogh
Museu Stedelijk
Masp
Museu do Louvre

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