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Restaurantes e buffets dão sabor inigualável a Trieste

SILVIO CIOFFI — ENVIADO ESPECIAL À ITÁLIA

Antiga Cidade-Estado e porto estratégico no extremo Nordeste italiano, Trieste é uma metrópole portátil e completa onde vivem 200 mil habitantes. Principal porto da região Friuli-Venezia-Giulia e um dos maiores da Itália, essa cidade é, a um só tempo, neoclássica, medieval e contemporânea.

No interior de um golfo banhado pelo mar Adriático, Trieste dá as costas para a região montanhosa do Carso, já na fronteira com a Eslovênia.

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No alto, a Sala dos Ventos no Eataly Trieste, envidraçada, de onde se observa os veleiros e, acima, o spuntino, ou aperitivo, no bar diante da Praça Unitá do Grand Hotel Duca D´Aosta (Fotos Silvio Cioffi-V!VA)
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Detalhe da vitrine da Pasticeria Pirona, com escultura e foto, respectivamente dos escritores Italo Svevo (1861-1928) e James Joyce (1882-1941); Pirona tem estilo art nouveau e foi fundada em 1900 (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

E, por séculos, pertenceu ao Império Austro-Húngaro até ser, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), cobiçada pela antiga Iugoslávia, ocupada por militares ingleses e norte-americanos até ser, finalmente, integrada à Itália no bojo de massivas manifestações populares.

Nesse caldeirão de culturas, floresceu uma gastronomia multifacetada.

Na região, convivem uma culinária mais ligeira, rica em frutos do mar e em ingredientes frescos da horta no verão; e, outra, que abusa de cozidos, presuntos e embutidos mais típica dos meses invernais.

Veja dicas de endereços de lugares para comer de verdade, tomar degustar apenas uma taça de vinho regional ou para saborear um doce refinado e um café em Trieste.

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Come melhor, vive melhor: frase no Eataly Trieste (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

1) Eataly Trieste — Primeira parada para quem percorreu os calçadões e o centro histórico a pé, esse local elegante e contemporâneo instalado num dos píeres que avança pelo mar tem um ambiente de bar envidraçado na parte frontal. Lá, em mesas que vislumbram veleiros e o mar, é possível simplesmente tomar uma taça de vinho, comer um doce, ou, também, pedir pratos como vitello tonato, um sanduíche ou um pedaço de pizza. Com dois andares, esse Eataly também abriga doçaria, padaria, pizzaria e até um restaurante sofisticado em diversos ambientes. Ainda é possível comprar no local pães frescos, vinhos típicos —como o espumante Ribolla Gialla, brancos friulanos ou tintos terán, esse último de origem eslovena. Azeites aromáticos e de baixa acidez, frutas frescas como pêssegos e romãs, frutos do mar congelados e até cogumelos e chocolates também são vendidos no Eataly de Trieste.

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Vista desde a Sala dos Ventos, espaço ímpar do Eataly Trieste (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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O prato vitello tonato (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

Quem vai viajar num transatlântico de cruzeiro —Trieste está tomando o lugar de Veneza no quesito porto de embarque— também tem nesse local uma referência de paraíso da gula e da luxúria.

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Garçonete leva porções de frios e pães (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

Endereço: Riva Tommaso Galli, 1, tel. local 39-040-2465701, www.eataly.it, reserva desnecessária, cheque horários de abertura

2) Trattoria Da Giovanni — Um buffet, que é como os triestinos definem os restaurantes populares, esse local tem mesas espalhadas pelo calçadão e um diminuto ambiente interno. Autêntico triestino, serve pratos tradicionais como lasanhas, massas, assados e contorni (acompanhamentos) típicos como espinafre, verduras cozidas e polenta.

O cardápio muda diariamente e uma lousa indica o que há no menu do dia. Para quem gosta de trippa alla romana, uma dobradinha cozida no molho de tomate, é endereço certo. Menos corajosos podem pedir apenas porções, com destaque para os presuntos cozido (cotto) e cru (crudo) e, na época, para os sardoni empanai, que são sardinhas grandes e suaves servidas à milanesa. Para acompanhar, há vinhos regionais em taça, em jarrinhas de um quarto de litro ou de meio litro.

Endereço: Via S. Lazzaro, 14.b, no coração do centro histórico. Tel. local 39-040-639396. Reserva desnecessária. www.trattoriadagiovanni.com.

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Acompanhamentos (contorni) servidos na Trattoria Da Giovanni (Foto Silvio Cioffi-V!VA )
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Frase rimada na lousa da Trattoria Da Giovanni (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

3) Buffet da Pepi — A caldaia, cozido de carnes suína e bovina acompanhado de batatas cozidas, chucrute e com raiz forte (kren) ralada na hora, é o carro-chefe desse buffet tradicional no inverno. Além da forte influência austríaca, das mostardas e dos embutidos, o local também serve pratos bem italianos como massas e verduras empanadas. Simples e arrebatador, ao lado da velha Bolsa de Valores e a poucos metros da Piazza Unitá, vale a visita.

Endereço: Via Della Cassa di Risparmio, 3. Tel local. 39-040-366858. Reserva necessária só para mesas grandes.

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Preparação das fatias da caldaia no restaurante (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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O cozido triestino caldaia mistura embutidos, defumados e carnes suína e bovina
(Foto Silvio Cioffi-V!VA)

4) Siora Rosa — Um dos mais típicos e antigos buffets triestinos, leva o nome da fundadora, uma senhora que ficava horas e horas cortando o presunto cozido preso numa haste de metal. Há mesas internas num ambiente que foi modernizado e, também, serviço ao aberto. Além das porções de presunto, há gnocchi de pão, lasanhas, bacalhau à vicentina e até lulas e frutos do mar empanados.

Endereço: Piazza Atillio Hortis, 3. Tel. local 39-040-301-460. Movimentado, mas com reserva desnecessária.

5) Alla Bella Trieste — Numa portinha, rústico e nem tão perto do centrinho, é um segredo da boemia triestina. Muitos vão lá para beber vinho ou cerveja e apenas beliscar. Para esses, há dias em que há até hambúrguer. Mas o Alla Bella Trieste tem pratos excelentes que variam conforme o dia. Do simples fusi alla istriana —uma massa curta feita com frango cortado com machado em molho ferrugem— até o sensacional gnocchi com scampi (que são lagostins em molho vermelho), o Alla Bella Trieste vale a visita, numa zona mais elevada e de bairro. Mariscos lambe-lambe (cozze) e lulas fritas podem integrar o surpreendente munu do dia (del giorno).

Endereço: Via Massimo D´Azeglio, 19. Tel. local 39-040-34129. É sempre cheio e não aceita reservas.

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O fusi alla istriana, uma pasta curta com molho de frango esopado, do Alla Bella Trieste
(Foto Silvio Cioffi-V!VA)

6) Hostaria I Tre Magnoni — Longe do centro histórico e num ambiente refinado, esse restaurante autoral e contemporâneo serve carpaccio de peixe, camarões crus marinados, entradas acompanhadas de frutas laminadas, vinhos de alta gama. Também tem massas e risottos, comidas do Norte da Itália. É imperioso reservar e não dá para chegar lá a pé vindo do centro histórico. Vale a extravagância.

Endereço: Via dell´Eremo, 243. Tel. local 39-040-910979. (SILVIO CIOFFI)

Cafés escreveram capítulos da história Triestina

DA REDAÇÃO DO V!VA

Historicamente um paraíso de escritores, como James Joyce, Italo Svevo e Umberto Saba, Trieste mantém com esmero seus cafés históricos e suas doçarias —onde também se constata a influência austríaca. Confira abaixo.

1) Pasticceria e Caffè Pirona
Num ambiente art nouveau original, esse local leva o nome de Alberto Pirona, um mestre-doceiro que inaugurou esse negócio em 1900. Dentro, muitos doces austríacos como presnik, torta redonda recheada de maçã com canela, docinhos de chocolate ao leite e amargo, tortinhas de frutas frescas. Vitrina, fotos e pequenos biberões retratam escritores que a frequentaram. Entre talagadas de digestivo, o irlandês James Joyce, que morou em Trieste e lecionou inglês na Escola Berlitz, escreveu lá páginas e páginas de Ulysses, seu romance mais ilustre. Já o italiano Italo Svevo foi visto tomando cafés e fumando, num tempo em que não se tinha consciência de que fumar fazia tão mal. Imperdível é uma palavra desgastada, mas essa doçaria e café não é um lugar-comum.

Endereço: Lago Della Barriera Vecchia, 12. Tel. local 39-040-235466.

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Mosaico art nouveau na entrada da casa remete à data de fundação (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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Estátua de James Joyce no centro histórico de Trieste; escritor irlandês viveu na cidade, lecionou inglês no Berlitz e frequentou a Pirona (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

2) Caffè Degli Specchi
Diante da Piazza Unità D´Italia, tida como a maior praça diante do mar em toda a Itália, esse café elegante e forrado de espelhos é, dizem os triestinos, um pouco caro. De todo modo, sentar nas mesas dispostas ao ar livre ou mesmo acomodar-se no salão interno, tomar um ótimo e ler o jornal Il Piccolo não tem preço. As vitrines com docinhos são infinitas. Muitos são de chocolate amargo, uns tem frutinhas do bosque, outros abusam do pistache, das caldas de licor, uma perdição.

Endereço: Piazza Unità D’Italia, 7. www.caffespecchi.it Tel. local 39-040-061793.

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Casal em mesa ao ar livre na Piazza Unità d´Italia, centro histórico triestino, onde estão o café Degli Specchi e o bar do Grand Hotel Duca d´Aosta (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

3) La Bomboniera
Entre os cafés históricos de Trieste, a Pasticceria La Bomboniera, fundada em 1836, fica no coração do centro histórico, numa rua só para pedestres. Oferece mesas ao ar livre para quem tomar um café, um licor e aprecia a vida passar.

Dentro, a decoração remete ao passado, há uma caixa registradora antiga original e o ambiente é luxuoso.

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Fachada do histórico estabelecimento de Trieste, que foi aberto em 1836 (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

Mas é por conta dos doces monumentais, das tortas para levar e dos petit-fours que La Bomboniera se define como pasticceria di tradizione austro-ungarica.

Uma listinha alla italiana do que pedir:
Crostata — é uma torta doce encimada com geleia de frutas da época (marmellata) e coberta com tirinhas de massa.

Gelatine — são pequenas porções de gelatina dura coloridas, uma festa para os olhos e para o paladar das crianças.

Rollatine di pane di Spagna — fatias de rocambole com recheios cremosos diversos.

Biscotti da Thé — são os nossos petit-fours, biscoitinhos de massa com ou sem cobertura de chocolate.

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Pedaços de rocamboles e bolos na vitrine do La Bomboniera (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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Cliente com seu cachorro na área externa do La Bomboniera (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

Brasiliano — sim, você leu corretamente. Há um petit-four em forma de coração, geralmente com geleia de fruta ou chocolate no meio, que os triestinos chamam de “brasileiro”!

O café, expresso, em suas várias modalidades, pode ser pedido “correto”. Vale dizer que uma talagada de licor ou aguardente fino é adicionada diretamente na xícara.

Endereço: Via 30 Ottobre, 3, tel. local 39-040-632752. (SILVIO CIOFFI)

Curiosidades da cidade

DA REDAÇÃO DO V!VA

Há inúmeros e ótimos bares e cafés anônimos, doçarias e sorveterias pontilham o centro histórico em Trieste. Quase sempre, o café servido na cidade é da Illy, marca originada na cidade —e pertencente a uma família que tem origem húngara. Recentemente, seu proprietário foi eleito prefeito, recusou-se a receber salário e criou o plano de urbanização que está transformado toda a área central em calçadão para pedestres. Há dias, quando a torrefação está a mil, que a cidade cheira a café.

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Prédios na Piazza Unità d’Italia, no centro de Trieste (Foto Silvio Cioffi-V!VA)
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Estrela de Davi na fachada da sinagoga de Trieste (Foto Silvio Cioffi-V!VA)

Também chamada de “A Cidade dos Ventos” e, no inverno, quando sopra a Bora, os cafés e bares acabam sendo um refúgio da boemia. Mamma mia, che cittá! (SC)

2 comentários sobre “Restaurantes e buffets dão sabor inigualável a Trieste

  1. Complimenti vivissimi per aver colto appieno lo spirito della mia bellissima città, presentandone le specialità culinarie e della ristorazione in genere, evidenziando dettagliatamente gli ambienti caratteristici.
    firmato : MICHELE LEONE, triestino verace (“triestin patoco” in dialetto locale), nonostante il cognome (padre meridionale, arrivato a Trieste nel 1918, e madre d’ origine austroungarica)

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    1. Grazie a lei! Sei molto gentile –e Trieste é, da vero, una città meravigliosa. Anche io sono 100% brasiliano, mamma 100% austriaca (nata a Vienna) e padre 50% meridionale/50% luso-brasiliano). Ma il mio cuore é, sicuramente, 1.000.000% triestin patoco!

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